Clube das mulheres que não sabem receber cuidado sem achar que estão incomodando

Eu falei algumas vezes nos últimos posts que eu estava aguardando o agendamento de uma cirurgia e sabia que quando eu fizesse essa cirurgia isso impactaria em muitas coisas na minha rotina. Pois esse dia chegou. Vou contar um breve resumo de como foi que eu precisei operar, até porque agora me sinto mais a vontade para falar sobre isso e também porque como é uma cirurgia chatinha, eu sei que tem gente que tem esse problema que eu tive e não trata por motivos diversos. 

Em dezembro eu comecei a sentir muita dor na região do cóccix (bem perto do "cofrinho" mesmo) e passados uns 2 dias formou um abcesso ali. Doía muito pra ficar sentada, dependendo do jeito que eu ficava eu sentia dor e como uma pessoa que tem endometriose, tenho pavor de sentir dor. Comecei achando que poderia ser uma inflamação no cóccix e fui pesquisar porque queria ir no médico, mas meio queria ter uma noção do que poderia ser, até que descobri a existência do Cisto Pilonidal. É um cisto de gordura e pelo que se forma nessa região e que pelo que entendi ele fica ali e um dia ele infecciona e incha. No meu caso, ele formou o abcesso, eu fui ao médico e fiz um tratamento de 14 dias com antibióticos. Nesse meio tempo passei com uma cirurgiã que me explicou sobre o problema e já me avisou que o melhor caminho era tratar para desinfeccionar e depois operar para remover, porque ele poderia voltar e eu correria o risco de abrir fístulas que poderiam dificultar o tratamento e até mesmo uma possível cirurgia depois.

Foto de Dương Hữu na Unsplash


Achei importante falar sobre o cisto pilonidal aqui porque quando eu comecei a sentir dor, fiquei relutante de ir ao médico por conta do local e imagino que muita gente que tenha esse problema (principalmente homens) e não vão ao médico por vergonha, por machismo ou outras questões. E tem também quem sabe que tem o problema, mas não opera porque o pós operatório é meio chato. Mas honestamente, seguindo as recomendações da médica, o meu tem sido tranquilo até. A cirurgia é rápida, eu precisei dormir no hospital por causa da anestesia, mas sem complicações. A questão é que não há pele para dar pontos então o local da cirurgia fica aberto para fechar de dentro pra fora e é necessário limpar e trocar esse curativo todos os dias e a gente fica com algumas restrições de movimento, além do risco de contaminação, então eu ainda vou ficar mais uns dias em casa antes de voltar ao trabalho, ainda com restrições porque o processo de cicatrização é lento. O que também vai afetar meus planos para o meu aniversário :(. Mas agora é sério, ontem eu precisei ir ao hospital por que tive uma crise de endometriose e o médico que me atendeu acabou conversando comigo sobre os riscos de não operar um cisto pilonidal e eu agradeço muito por ter operado porque há riscos de ele virar um problemão. Cuidem do cofrinho de vocês, real!

Faz 8 dias que operei e quero falar um pouco aqui sobre a minha dificuldade de simplesmente deixar as outras pessoas cuidarem de mim. O Everton estava no trabalho e ele não conseguiria voltar então precisei contar com as minhas amigas para se revezarem aqui em casa e trocarem meu curativo e me ajudarem com algumas tarefas da casa (principalmente as coisas dos gatos porque eu não posso ficar abaixando) e a primeira semana foi muito difícil porque eu queria ser útil, eu não queria que pensassem que eu estava abusando eu não queria incomodar e eu comecei a ficar bem ansiosa com isso quando na verdade ninguém estava se incomodando com nada. As meninas estavam cuidando de mim e passando tempo comigo, sem achar nada.

Eu não gosto de sentir que estou dando trabalho, mas eu não ligo de cuidar de todo mundo. Eu não sei muito bem como faz para ser cuidada sem sentir que estou incomodando. Me peguei várias vezes tentando fazer sala para as meninas ou checando o tempo todo se estava tudo bem, pedindo desculpas por precisar das coisas e isso é ruim. Principalmente porque eu sei que as pessoas precisam ser cuidadas, mas eu ainda não aprendi a receber cuidado. Não sei se é medo de estar vulnerável, não sei se é necessidade de ser útil... Eu só sofri um tanto nos primeiros dias porque não conseguia relaxar.

Eu operei numa quinta feira e sinto que só consegui parar de me desculpar por tudo no domingo. Eu pude enfim relaxar e aceitar ser cuidada e até me divertir um pouco. Nesse meio tempo, eu joguei videogame, vi filme, série, eu até bordei e fiz crochê (muitas vezes de pé rs). Eu li, li bastante, eu terminei o romance que tinha começado, li um conto e agora estou lendo outro livro. Estou me esforçando para parar de fingir que não estou fragilizada e aceitar ajuda. Mas eu senti que deveria conversar sobre isso aqui até para entender se era só comigo.

E foi por esse motivo que mesmo estando em crise de endometriose e sem dormir por 2 noites, com muita dor eu ainda não queria ir ao hospital porque não queria dar trabalho para o Everton. Foi quando eu tive uma crise de choro que ele bateu o martelo e disse que me levaria ao hospital para eu pelo menos conseguir dormir uma noite porque com certeza eu tomaria uma medicação forte o bastante para segurar minhas dores até o dia seguinte. Eu consegui dormir melhor e ainda estou bem sonolenta o que é gostosinho. Poder só dormir e aceitar carinho e cuidado de quem gosta de mim...

Vocês já passaram por isso? Tanto sobre o cisto quanto sobre essa dificuldade absurda de só ficar de boa sendo cuidada? 

Comentários

  1. Oi, Aline!
    Primeiramente desejo que sua recuperação continue indo bem! Consegui me enxergar um pouquinho no seu relato!

    Geralmente gosto de ser cuidada. Porém, tenho dificuldade de deixar isso acontecer naturalmente, estou sempre tentando mostrar que consigo, que posso... Mas às vezes não dá. Tenho trabalhado isto em mim.

    Um abraço pra ti!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Vanessa!
      A gente precisa deixar que cuidem da gente porque geralmente quem ta sempre cuidando, não aceita muito bem quando precisa ser cuidado (e geralmente somos nós mulheres nesse papel).

      Espero que você consiga se permitir receber cuidado e pedir ajuda tambem sempre que necessário!
      Um abraço ;)

      Excluir
  2. Oiê Aline!
    Nunca passei pelo cisto e espero que esteja se recuperando bem (ou quando ler o comentário que já tenha se recuperado!).
    Lhe entendo perfeitamente. Eu também tenho dificuldade em aceitar carinho e cuidado, inclusive quando alguém fala que sentiu a minha falta, ou que pensou em mim, ou que quis fazer um agrado e me pagar um lanche, ou quando desabafo com um amigo e depois fico me sentindo mal por pensar que é idiota contar meus problemas.
    É aquela história, a gente cresce acreditando que precisa ser forte e independente o tempo todo, como se nunca precisássemos de ninguém para nada. Isso é ruim por N's motivos.
    Nenhum de nós deveria se sentir culpada ou pensar que estamos demonstrando fraqueza só porque a gente precisa de carinho e ajuda.
    Todos nós somos humanos!
    E é tão gostoso quando tem alguém que se preocupa com você (além da própria mãe, é claro).

    Até mais Aline!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Karolini,

      Pois é. Tem tanta coisa por trás dessa casca que a gente cria. Ser independente é bom, mas não aceitar ajuda e se sobrecarregar até a exaustão é perigoso! Sem contar que a gente fica se sentindo sozinha boa parte do tempo.

      Eu espero que aos poucos a gente aprenda que está tudo bem em ser cuidada.

      Um abraço!

      Excluir
  3. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  4. Oi Aline!
    Espero que agora você já esteja 100% bem e recuperada! Sinto que você colocou muita coragem na escrita desse post, nem sempre é fácil se abrir desse jeito.
    Pra mim teve um momento bem crítico quando eu estava tendo minhas primeiras crises de ansiedade. Fiquei com vergonha de falar o que eu estava sentindo e quando eu não sabia mais o que fazer, acabei no posto de saúde onde me colocaram logo para falar com uma psicóloga. Depois que eu contei tudo o que eu estava me sentindo pra ela, ela me perguntou se eu sentia que tinha um impedimento nas pessoas serem boas comigo e oferecerem tempo ou dinheiro, quando viam que algo estava acontecendo comigo. Na hora foi um baque imenso, pois eu não sabia o que responder. Sentia essa mesma sensação de não incomodar. Ela então me deu um "tema de casa", que consistia em pedir ajuda pra várias coisas aleatórias e ir vendo como eu me sentia com isso. Foi ali que eu percebi que me sobrecarregava e que várias pessoas viam isso e se preocupavam que eu fazia coisas demais.
    A real, que eu só percebi beeeem depois, é que pessoas se preocupavam comigo e só queriam abertura para me ajudar. Eu nunca tinha percebido isso, pois sempre agia como aquela que dá um jeito pra tudo. A gente também pode se sentir amada, cuidada, segura, tendo ajuda dos outros. Sair disso é como passinhos de formiguinha... primeiro parece pouquinho, mas logo você olha pra trás e percebe que percorreu um baita caminho.

    Abração

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Use o bom senso para comentar, pois não serão aprovados comentários contendo mensagens agressivas, de baixo calão ou preconceituosas. Vamos manter uma blogosfera agradável.

Deixe o endereço do seu blog para que eu possa conhecer também!

back to top